Trajetória de 25 anos de missão marcada por coragem, serviço e esperança
O percurso do padre Ronildo Pinto França mostra como os missionários da Consolata continuam expandindo a presença da Igreja nas fronteiras onde a fé se faz serviço e compromisso.
A vocação missionária de padre Ronildo Pinto França, imc, atravessa décadas, fronteiras e realidades contrastantes. Nascido em Manaus, ele descobriu cedo a beleza da vida entregue ao Evangelho. “Eu cresci e me criei numa paróquia missionária”, recorda. Essa experiência inicial, ainda na infância, acendeu nele o desejo de servir e o conduziu ao seminário.
Em 1988, ingressou no seminário dos missionários do PIME em Manaus, onde estudou Filosofia e teve como primeiro formador o padre Sérgio Weber, imc. Ali, começou a aprofundar o sentido da missão. Mais tarde, conheceu os missionários da Consolata na paróquia de Santa Luzia.
Formação entre culturas: Colômbia, Espanha, Itália e Moçambique
A formação do jovem missionário foi marcada por uma rica vivência intercultural. Após a Filosofia, foi enviado ao noviciado na Colômbia. “Fiz um ano de noviciado, depois fui para a Espanha para estudar teologia.” Antes disso, passou pela Itália, onde aprendeu um pouco de italiano.
O período na Espanha preparou o caminho para aquilo que ele descreve como um dos momentos mais intensos de sua vida missionária: os dois anos de estágio em Moçambique. “Eu tive a oportunidade de passar dois anos em Cuamba, Moçambique, lá no Niassa, Norte do país. Trabalhar em Moçambique foi uma experiência inesquecível”.
A vivência africana marcou profundamente sua espiritualidade e reforçou o desejo de um dia voltar. “Eu poderia ter continuado em Moçambique, mas o Instituto preferiu que eu continuasse estudando em São Paulo. [...] Com o sonho de um dia voltar, retornar à África, né? Coisa que nunca aconteceu, mas que continuo sonhando”.
Ordenação e envio para a missão Surumu, em Roraima
De volta ao Brasil, concluiu os estudos de Missiologia no Seminário João Batista Bísio. Em 25 de novembro de 2000, foi ordenado sacerdote na paróquia Santa Luzia, em Manaus, pelo bispo Dom Carilo Grit, também missionário da Consolata.
Seu primeiro destino como padre foi a missão Surumu, em Roraima, uma área marcada por intensos conflitos ligados ao processo de homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol. “Aquele momento também [era] um pouco crítico, porque a Raposa Serra do Sol estava prestes a ser homologada”, lembra.
Foi ali que viveu um dos episódios mais dramáticos de sua trajetória.
O sequestro de 2004: missão sob ameaça
Em 6 de janeiro de 2004, na madrugada, a missão foi invadida por um grupo formado por indígenas e fazendeiros contrários à homologação da terra indígena. Padre Ronildo, o irmão Juan Carlos Martínez e o padre colombiano César Avellaneda foram sequestrados e mantidos reféns por três dias.
Ele recorda o episódio com sobriedade: “Houve aquele momento triste no qual a missão foi invadida, houve destruição por parte dos fazendeiros e algumas lideranças indígenas e políticas da região, e no qual eu também fui sequestrado junto com dois missionários”.
A tensão na região prosseguiu nos anos seguintes, culminando em novas invasões e destruições. Mesmo assim, a equipe missionária permaneceu ao lado das comunidades indígenas, reafirmando o compromisso da Consolata com a justiça e a defesa da vida.
Missão urbana, missão internacional: Rio de Janeiro, México e Bahia
Após a experiência em Roraima, padre Ronildo foi trabalhar no Rio de Janeiro. Lá atuou na paróquia da Consolata, na Mangueira, em um dos contextos urbanos mais vulneráveis da capital fluminense.
Em 2008, recebeu uma nova missão: integrar a abertura da presença da Consolata no México. “Foi uma experiência também gratificante e um pouco até difícil, porque começar uma missão num país desconhecido é muito difícil.” Ronildo permaneceu sete anos no país, acompanhando comunidades e ajudando a consolidar a presença missionária.
De volta ao Brasil, assumiu como pároco em Feira de Santana, na Bahia, onde a Consolata mantém presença há mais de três décadas. Depois de seis anos, recebeu novo destino: “Fui agora destinado ao sul do Brasil, na paróquia São Paulo, em Cascavel.”
Tempo de pausa, gratidão e esperança
Às vésperas de completar 25 anos de ordenação, padre Ronildo vive um período de estudo e reflexão, algo que considera fundamental na caminhada missionária. “É um momento de parada na nossa caminhada depois de 25 anos de trabalho pela missão”, afirma.
Para ele, a pausa permite reler o caminho e renovar o compromisso. “A gente também tem que às vezes dar uma parada para ver o caminho que estamos construindo ao longo desse tempo e [...] olhar para o futuro com esperança, com o desejo de continuar servindo ao Instituto, à missão e a Jesus Cristo.”
Um apelo por novas vocações
Com olhar sereno e realista, padre Ronildo também faz um chamado às novas gerações:
“É muito difícil hoje em dia. As pessoas às vezes estão presas à sua cultura, à sua família, à sua realidade, e não olham além, para outras possibilidades que Deus oferece”.
Ele acredita que a vida missionária continua sendo uma resposta válida e urgente para um mundo que ainda sofre. “O mundo é muito maior do que a nossa própria vida e do que o lugar onde estamos. E nós podemos ganhar muito conhecendo outras culturas, outras línguas, outras pessoas que têm muito a nos oferecer.”
Com fé madura, finaliza com esperança: “A esperança que eu tenho é de que teremos ainda muito o que fazer e também muito o que oferecer [...] nessa missão, que não é tão fácil, mas que Deus conta conosco”.
Vídeo:
Fonte: Consolata News / Padre Jaime Carlos Patias