Salva tua Alma e o Amor Samaritano!

22 de dezembro de 2025

 

São raros na Igreja os casos de amor samaritano, aquele que socorre pessoas sem se perguntar por origem, cor, sexualidade, ou qualquer outro condicionante.

Por Roberto Malvezzi (Gogó)

A clássica pergunta de um fariseu a Jesus volta todos os dias: "Mestre, que devo fazer para entrar na vida eterna?" A resposta de Jesus já conhecemos: "amarás ao Senhor teu Deus de todo teu coração, com toda tua alma e com todas as tuas forças. O segundo é semelhante a esse: amarás teu próximo como a ti mesmo".

Então, o fariseu, querendo se justificar, perguntou a Jesus: "quem é o meu próximo?" Então, Jesus lhe conta a parábola do Samaritano e pergunta: "quem foi o próximo do homem caído na estrada?". Ele responde: "aquele que cuidou dele". Aí Jesus conclui: "se quiseres entrar na vida eterna, vai e faz o mesmo" (Lc 10,25-37)

Então, numa época em que volta o "salva tua alma" (entrar na vida eterna), de tantos penduricalhos nas Igrejas, tanta veste, tanta pompa, invenções de devoções que ficam na periferia do Evangelho, o conteúdo principal anunciado por Jesus fica escondido e envergonhado. Há medo de anunciar o Evangelho, por receio de que fiéis achem ruim e até saiam da Igreja. O "salva tua alma" é a espiritualidade mais ególatra já inventada, ela não tem amor a ninguém, nem ao próximo, nem mesmo a Deus, porque está centrada em si mesma.

Esses dias tivemos dois casos exemplares no Brasil. O primeiro em Jales, quando o padre disse aos fiéis que, aqueles que apoiassem a chacina do Rio de Janeiro, saíssem da Igreja. Muitos se levantaram e saíram. Então, Dom Reginaldo publicou uma retratação do padre.

O padre pode até ter errado ao colocar essa condicional aos presentes, afinal, como dizia Francisco, todos podem entrar numa Igreja Católica. Por outro lado, é de se perguntar que tipo de evangelho é anunciado nas homilias, nessas rádios e TVs, nessas plataformas católicas que levam pessoas a apoiar essas pautas desumanas e radicalmente anti evangélicas.

Algum fundamento está faltando na evangelização. É exatamente por colocar atenção em tantos penduricalhos e anular o conteúdo fundamental do Evangelho que esses fatos acontecem.

São raros na Igreja os casos de amor samaritano, aquele que socorre pessoas sem se perguntar por origem, cor, sexualidade, ou qualquer outro condicionante. É a fraternidade universal, vivida por Francisco de Assis, Charles de Foucauld, Irmã Dulce, Hélder Câmara e milhões de anônimos no cotidiano.  

Citando o segundo exemplo, tem toda razão Dom Peruzzo (Arcebispo de Curitiba) ao proibir manifestações políticas dentro das Igrejas. Se o Evangelho não pode estar a serviço de nenhuma ideologia – embora as ciências sociais considerem a religião como uma ideologia de segunda categoria -, também não pode estar a serviço do nazifascismo brasileiro.

Quem quer entrar na vida eterna (salva tua alma), pode renunciar a essa evangelização de segunda categoria e viver o amor samaritano que o Senhor nos ensinou.

Roberto Malvezzi (Gogó) é membro da Comissão Pastoral da Terra e ativista ambiental.

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