Os Votos na Vida Religiosa e a Formação Hoje

Formadores que atuam na África reunidos em Bunju, Dar es Salaam, Tanzânia.

Cerca de 30 missionários da Consolata envolvidos na formação em países como Quênia, Tanzânia, Etiópia, República Democrática do Congo, Moçambique, África do Sul e Costa do Marfim participaram de um curso realizado entre os dias 7 e 12 de julho em Bunju, na Tanzânia. Durante o programa, o padre Mathew Ouma, IMC, ofereceu uma reflexão sobre o significado dos votos na vida religiosa, especialmente para aqueles responsáveis pela formação dos futuros missionários.

Por Padre Paulino Madeje

Em sua apresentação, padre Mathew Ouma destacou que os votos de obediência, castidade e pobreza são muito mais do que compromissos externos: eles representam uma resposta profunda ao amor de Deus. Esse amor, segundo ele, deve ser o fundamento de todo o trabalho formativo. Após a exposição, os participantes realizaram trabalhos em grupo para compartilhar ideias e aprofundar o conteúdo apresentado.

Padre Mathew ressaltou que a obediência é o voto central, sendo a castidade e a pobreza expressões concretas desse compromisso. Esses votos estão enraizados no batismo e marcam uma transformação moral e espiritual que deve ser visível na vida do missionário, especialmente diante dos desafios reais da missão.

Padre Mathew Ouma: "Os votos de obediência, castidade e pobreza representam uma profunda resposta ao amor de Deus"
Padre Mathew Ouma: "Os votos de obediência, castidade e pobreza representam uma profunda resposta ao amor de Deus"

Ele também lembrou aos formadores as qualidades essenciais da vida comunitária: integridade, transparência e autenticidade. Os votos não devem ser usados como distintivos de status ou identidade, mas vividos como uma humilde forma de testemunho. Os formadores devem encontrar o equilíbrio entre não se tornarem excessivamente íntimos dos formandos, mas ainda assim amá-los com um amor maduro que respeite sua liberdade. Em tempos digitais, repletos de distrações e aparências enganosas, é mais importante do que nunca que os formadores sejam profissionais enraizados na fé.

Em resumo, os votos não são um fim em si mesmos, mas um caminho que conduz os missionários à sua meta final: o céu. Viver os votos com autenticidade e compromisso é, além de um desafio, o testemunho exigido de todo verdadeiro missionário da Consolata.

Das discussões em grupo surgiram reflexões importantes. A formação na África está enfrentando grandes desafios e oportunidades, que exigem uma abordagem coordenada e contextualizada. Por isso, foi proposta a criação de uma Comissão Continental de Formadores, reunindo representantes de todo o continente para refletir sobre a realidade da formação, adaptar os programas e promover a colaboração com a Comissão de Animação Missionária. Os encontros ocorreriam de forma alternada entre presencial e virtual, garantindo um envolvimento contínuo.

O continente está vivenciando um crescimento vocacional, mas também enfrenta dificuldades econômicas. Para sustentar essa expansão, as regiões devem mobilizar recursos por meio de benfeitores locais, apoio paroquial e ex-alunos — com Quênia e Tanzânia sendo modelos nesse sentido. É essencial equilibrar o número de seminaristas com os recursos disponíveis, e recomenda-se fortemente a criação de um fundo continental para a formação.

Melhorar a qualidade da formação é crucial. É necessário ter um plano claro para a seleção e preparação dos formadores, com centros especializados como o CIU desempenhando um papel-chave. Os formadores devem ter uma sólida formação espiritual, incluindo a espiritualidade da consolação, e todos os candidatos ao noviciado devem alcançar domínio da língua inglesa, para favorecer a unidade.

Atualmente, os formadores lidam com cargas de trabalho pesadas e muitas vezes não possuem a preparação adequada para os desafios modernos da formação. É necessário respeitar os limites de mandato, equilibrar responsabilidades e priorizar a formação permanente e o descanso. Também se recomenda identificar e preparar futuros formadores ainda durante o tempo de seminário.

Seminário filosófico de Morogoro, na Tanzânia. Foto: Seminário Allamano
Seminário filosófico de Morogoro, na Tanzânia. Foto: Seminário Allamano

As discussões recentes ressaltaram a importância de abordar temas contemporâneos como o uso de drogas, desafios psicosexuais, inteligência artificial, mídias digitais e a proteção de pessoas vulneráveis. O workshop foi bem organizado, embora os participantes tenham solicitado mais tempo para interação social e apontado algumas dificuldades técnicas.

Também foram recomendadas as seguintes ações: ampliar as experiências pastorais dos seminaristas, estabelecer códigos de vestimenta claros e envolver os animadores vocacionais nos próximos encontros.

Em essência, a formação na África deve ser colaborativa, bem estruturada e adaptada à realidade atual, garantindo crescimento e qualidade, apoiando os formadores e respondendo de forma criativa às necessidades em constante transformação dos jovens missionários e da Igreja.

* Padre Paulino Madeje é Missionário da Consolata na Tanzânia e Coordenador da Comunicação para a África.

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