A CONSOLAÇÃO, NA BÍBLIA

10 de fevereiro de 2022

Quais são as palavras de fé diante de quem sofre?

Por Stefania Raspo

Quais são as palavras de fé diante de quem sofre?
Na Bíblia, o consolo vem justamente em tempos de dificuldade. A Bíblia apresenta, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a consolação como experiência de ser humano em relação com Deus. Em particular, é o profeta Isaías que anuncia a consolação de Deus a Israel: num momento difícil para a história do povo, o convite é clamar, gritar em uma alta montanha:

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"Console, console meu povo!" (Is 40,1), porque o Senhor vem, acabou a escravidão, a distância de Deus, Deus conforta o "seu" povo: sinal de pertença que é fonte de consolação. Por sua vez, o povo pode desfrutar da presença do Adonai, que é consolação. Não é uma experiência íntima, mas uma presença que se torna missão e anúncio: "Console!". O profeta anuncia e convida a anunciar para consolar.
O Salmo 119, uma oração maravilhosa sobre a Palavra de Deus, diz: "Isto me conforta na miséria: a tua palavra me dá vida" (Salmo 119, 50): a Palavra de Deus é luz, lâmpada para os passos do crente, e também consolação, porque nela descobrimos a doce verdade, a profunda revelação: Deus me ama e está sempre comigo, e como diz um conhecido versículo do Salmo 22: "Se eu andasse por um vale escuro, não temeria mal algum, porque tu estás comigo” (Salmo 22,4).

O Novo Testamento reconhece em Jesus a Consolação feita carne: Lucas conta que Simeão, um homem justo, esperava a consolação de Israel, e a reconheceu em uma criança nos braços de sua mãe. O Espírito Santo o moveu e o iluminou:
“25 Em Jerusalém havia um homem chamado Simeão, homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava sobre ele. 26 O Espírito Santo lhe disse que não veria a morte sem antes ver o Cristo do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, ele foi ao templo e, enquanto seus pais levavam o menino Jesus para fazer o que a lei lhe prescrevia, 28 ele também o acolheu em seus braços e abençoou a Deus, dizendo:
29 «Agora podes deixar, ó Senhor, que o teu servo vá em paz, segundo a tua palavra,
30 pois os meus olhos viram a tua salvação,
31preparado por você diante de todos os povos: 
32 luz para te revelar às nações e glória do teu povo, Israel”. (Lc 2,25-32)

Jesus é salvação, Jesus é luz, e por isso é a verdadeira consolação. Mas a Encarnação torna as coisas decididamente muito concretas: a consolação tem um nome, um rosto; é uma presença, um "você" com quem pode entrar em relacionamento. O Antigo Testamento o afirmava, e o Novo Testamento o reafirma: a consolação nasce do encontro com Deus, da sua Palavra que é luz (até Jesus é reconhecido como luz por Simeão!). Mas o Verbo se fez carne, portanto a consolação nasce e cresce no encontro e na relação com Jesus.

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Paulo resume admiravelmente na segunda carta aos Coríntios:
"3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai misericordioso e Deus de toda consolação, 4 que nos consola em todas as nossas tribulações, para que também nós possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação com a consolação com que somos consolados, nós mesmos, por Deus” (2 Coríntios, 1,3-4).
Também aqui, como em Isaías, a experiência de consolação abre-nos ao outro: São Paulo sabe-o bem, ele que encontrou Jesus de forma forte e radical, de tal forma que não podia deixar de anunciá-lo: "Ai de mim se não, anuncio o Evangelho!" (1 Coríntios 9:16). Encontrar a consolação, ser consolado e tornar-se consolador.

O Evangelho não é uma varinha mágica que tira nossos problemas, mas nos faz vivê-los de uma maneira nova: reconhecendo a presença amorosa de Deus e não nos fechando em nós mesmos, mas abrindo-nos aos outros, como consoladores e consoladoras.
Consolação: uma experiência profundamente pessoal, mas não individual; como cada realidade evangélica autêntica nos transforma, nos humaniza e nos envia aos irmãos e irmãs, para que também eles sejam "contagiados" pela mesma consolação.

Stefania Raspo é Missionária da Consolata na Bolivia

 

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