Comitê denuncia violações contra os Avá-Guarani no Paraná
A missão foi organizada pelo Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos, junto com o Conselho Nacional de Direitos Humanos. Foto: Tatiana Lima/Ascom CBDDH
“Não temos água, comida, nem escola. O mato era tudo para nós”, diz liderança indígena em meio a denúncias de abandono e violência
Por Redação
Uma missão conjunta entre o Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH) e o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) percorreu, entre os dias 23 e 27 de maio, comunidades indígenas Avá-Guarani localizadas nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, no oeste do Paraná. A ação teve como objetivo documentar violações de direitos humanos e dar visibilidade à luta dessas populações pela demarcação de seus territórios.
Durante a missão, lideranças indígenas relataram episódios graves de racismo institucional, insegurança alimentar, falta de acesso a água potável, saúde e educação, e a ausência de documentação civil. Os depoimentos também revelaram que crianças indígenas sofrem discriminação nas escolas por falarem sua língua materna e usarem roupas sujas — reflexo direto da precariedade das condições de vida nos tekohas (territórios tradicionais).
Racismo e negação de direitos básicos
Para os organizadores da missão, a situação vivida pelas comunidades Avá-Guarani é uma das mais críticas já documentadas. O principal fator de conflito, segundo os relatos, é a disputa por terra. A Terra Indígena Tekoha Guasu Guavirá, reconhecida pela Funai com cerca de 24 mil hectares, está sobreposta por mais de 160 fazendas — muitas delas fruto de concessões irregulares feitas pelo Estado desde o século XIX.
Além das denúncias, a missão buscou articular uma agenda institucional que envolveu reuniões com órgãos como o MPF, Funai, Defensorias Públicas e o Ministério dos Povos Indígenas. Em Curitiba, a comitiva também esteve no TJPR, TRF-4 e Assembleia Legislativa do Paraná.
Acordo com Itaipu é reparação parcial
Em março deste ano, um acordo histórico foi firmado entre o povo Avá-Guarani, a Itaipu Binacional, o governo federal e órgãos do Judiciário, prevendo a aquisição de 3 mil hectares como medida de reparação parcial pela expulsão dos indígenas durante a construção da usina hidrelétrica na ditadura militar. Apesar do avanço, as lideranças alertam que a área é insuficiente para atender as 31 comunidades da região e que a luta pela demarcação completa do território continua.
Escalada da violência e medo cotidiano
A missão ainda destacou o aumento da violência: em janeiro, quatro indígenas — incluindo uma criança — foram baleados, e em março, um indígena foi encontrado morto e decapitado nas proximidades de Guaíra.
“O mato era nosso mercado, nossa farmácia. Agora não temos nem água, nem terra para plantar”, lamentou uma das lideranças ouvidas pela missão.
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