Bispos da Amazônia abrem encontro em Bogotá com apelos à sinodalidade e à defesa da Casa Comum

18 de agosto de 2025

Com um chamado à sinodalidade, à defesa dos povos e ao cuidado da Casa Comum, mais de 90 bispos da Pan-Amazônia iniciaram em Bogotá o Encontro de Bispos da Amazônia, um espaço que busca fortalecer a colegialidade e relançar o caminho da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA).

Por Julio Caldeira *

Em um ambiente de fraternidade eclesial e com forte presença de povos originários, foi inaugurado na sede do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), em Bogotá, o Encontro de Bispos da Amazônia da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. A abertura reuniu cardeais, bispos, religiosos, religiosas e leigos de nove países da Pan-Amazônia e foi marcada por apelos a caminhar juntos como Igreja sinodal, em defesa dos povos e da Casa Comum.

Participantes do Encontro em Bogotá. Fotos: Júlio Caldeira.

Vozes diversas da Igreja amazônica

A jornada inicial incluiu a apresentação da presidência da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA), um organismo único na Igreja por integrar bispos, leigos, vida consagrada e representantes dos povos originários. A líder indígena Patricia Gualinga, do povo Sarayaku, convidou a manter viva a memória das comunidades amazônicas, enquanto o leigo Mauricio López recordou: “O povo não é povo sem pastor, nem o pastor é pastor sem povo”. Por sua vez, a irmã Laura Vicuña, catequista franciscana, destacou que “os novos caminhos da Igreja na Amazônia passam pela inculturação da Boa-Nova”, evocando os povos originários como guardiões da esperança em meio à crise socioambiental.

N. Sra. De. Nazaré, Mãe da Amazônia.

O cardeal Pedro Barreto, presidente da CEAMA, animou os participantes a serem “peregrinos da esperança na Amazônia” e agradeceu o apoio do Celam, da Repam e da Arquidiocese de Bogotá. Já monsenhor Zenildo Lima, vice-presidente da CEAMA, sublinhou a importância deste encontro como espaço de amizade e fraternidade em Cristo.

Uma Igreja sinodal e partilhada

O cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, afirmou que a gestação da CEAMA “foi um verdadeiro milagre” e destacou seu caráter eclesial, no qual participam bispos, leigos, religiosos e especialistas. Ressaltou que o desafio atual é ser “real e constitutivamente episcopal e sinodal”, consolidando um caminho de pastoral partilhada e inculturada.

Cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral.

Em sua reflexão, Czerny recordou que a Amazônia deve ser vista não apenas como um território geográfico, mas como um “lugar teológico”, onde a fé se enraíza na história e nas culturas locais.

Sinais de esperança

Em um gesto carregado de simbolismo, os bispos receberam uma cruz amazônica elaborada pelo artesão boliviano José Dorado com madeira proveniente de árvores queimadas na região da Chiquitania. Cada cruz representa a dor da terra ferida por incêndios e desmatamento, mas também a esperança de que a vida pode brotar do sofrimento. “Este sinal comunitário é um chamado a renovar o compromisso com a defesa da vida, dos povos e da Casa Comum”, destacaram os organizadores.

Cruz Amazônica.

O alento do Papa

O cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, transmitiu a saudação e o agradecimento do Papa Leão XIV aos mais de 90 prelados presentes. Em sua mensagem, o Pontífice recordou três dimensões inseparáveis da missão amazônica: “O anúncio do Evangelho, o trato justo com os povos e o cuidado da Casa Comum”.

O Papa exortou a manter a centralidade de Jesus Cristo na evangelização e sublinhou que, onde se anuncia o Evangelho, “a injustiça retrocede e cresce a fraternidade”. Também fez um apelo para evitar tanto a destruição dos recursos naturais quanto a “idolatria da natureza”.

Uma Igreja com rosto amazônico

As saudações de organismos aliados como a CLAR, a Cáritas e a Repam reforçaram o compromisso de toda a Igreja latino-americana com o caminho amazônico. “O tema da Amazônia não é apenas dos bispos da região, mas de toda a Igreja”, afirmou monsenhor Francisco Javier Múnera, presidente da Conferência Episcopal da Colômbia.

O encontro, que se estenderá até 20 de agosto, busca fortalecer a colegialidade episcopal e relançar a missão da CEAMA, concebida como um âmbito de sinodalidade que a América Latina oferece à Igreja universal. Como expressou o cardeal Barreto: “Continuemos com renovado vigor nossa caminhada juntos como Igreja com rosto amazônico”.

* Padre Julio C. Caldeira, IMC, é mestre de noviços em Manaus.

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