60 anos da Missão Catrimani e 1º aniversário da canonização de São José Allamano

24 de outubro de 2025

 

A Missão Catrimani, em Roraima, onde os missionários e as missionárias da Consolata desenvolvem trabalho com os indígenas, celebrou entre os dias 20 e 22 de outubro de 2025 dois momentos significativos: os 60 anos de sua existência e um ano da canonização do fundador dos missionários e missionárias, São José Allamano. A Missão foi palco do segundo milagre de Allamano, que salvou o indígena Sorino, atacado por uma onça.

Por Bob Mulega *

Os três dias de celebração reuniram missionários e missionárias da Consolata, membros do Conselho Indigenista Missionário) CIMI, religiosos e religiosas, professores, estudantes e representantes de diversas comunidades locais. Também participaram online o indigenista Egydio Schwade e o teólogo Guilherme Damioli, que, mesmo à distância, enriqueceram o evento com reflexões profundas e testemunhos de fé e compromisso.

Memória e testemunho: uma história que fala ao coração

A programação abriu em clima de alegria e reverência pela história construída por muitas pessoas ao longo de seis décadas de missão. A presença de dom Evaristo Spengler, bispo da Diocese de Roraima, e do padre James Murimi, vice superior dos missionários da Consolata na Região Brasil, deu ao encontro um tom de comunhão eclesial e familiar.

Na oração de abertura, padre Murimi convidou os participantes a se deixarem envolver pelo espírito de gratidão e escuta. Em seguida, dom Evaristo dirigiu palavras inspiradoras, destacando que a Missão Catrimani é “um sinal visível do Evangelho que se faz presença, diálogo e serviço entre os povos indígenas”. Ao longo dos anos, os missionários e missionárias aprenderam um modelo de missão baseado no respeito à diversidade e no diálogo, na defesa da vida, da cultura, da terra e da floresta. Caminhamos juntos, ao lado deles, compartilhando suas alegrias, sofrimentos e resistências.

As partilhas contaram com a contribuição do Irmão Carlos Zaquini (foto acima), missionário com 60 anos de serviços em Roraima, responsável pelo Centro de Documentação Indígena (CDI), que apresentou uma leitura da trajetória da Missão Catrimani, fundada em 1965 pelos padres Bindo Meldonesi e João Calleri, a 250 km de Boa Vista, para acompanhar e apoiar as comunidades indígenas Yanomami na região.

Também a contribuição on-line, do teólogo Guilherme Damioli, ofereceu uma reflexão teológica sobre a inculturação do Evangelho reforçando a dimensão espiritual e comunitária da missão Consolata. Por sua vez, o senhor Laurindo Lazaretti (foto acima), Coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Roraima, que atuou na Missão Catrimani, recordou os desafios das primeiras comunidades Yanomami acompanhadas pelos missionários; e a Irmã Florença Lindey, religiosa que trabalhou na área da saúde no Catrimani, emocionou os presentes com seu testemunho sobre a presença feminina e consagrada na missão.

Educação, saúde e CIMI: a missão que transforma

A programação no dia 21 de outubro focou na memória viva das áreas de educação, saúde e organização comunitária, pilares que sustentaram a missão ao longo dos anos. Foi um momento de reconhecimento e análise, mas também de renovação do compromisso para o futuro.

A área da saúde foi apresentada pelo enfermeiro Gracione, representando a Secretaria da Saúde Indígena (SESAI), que destacou o valor do trabalho conjunto entre profissionais de saúde e comunidades indígenas. O tema da educação foi abordado por Maria Edina de Brito e pela Irmã argentina, Noemi Del Valle, que relembraram o esforço pela construção de uma Etno-educação, culturalmente respeitosa e comprometida com a formação humana.

Na sequência, o trabalho do CIMI foi apresentado por Gilmara Fernandes e Ediana da Sousa, que ressaltaram a defesa dos direitos dos povos indígenas, a importância da demarcação das terras e o compromisso da Igreja com a justiça e a vida. Destacou-se também a contribuição online do indiginista Egydio Schwade, que trouxe uma reflexão sobre os desafios da missão diante das mudanças sociais e ambientais.

A celebração da fé: 1º aniversário da canonização de São José Allamano

O encontro terminou no dia 22 de outubro com uma Santa Missa presidida pelo padre James Murimi, às 19h30, na igreja Nossa Senhora de Nazaré. O clima era de festa e espiritualidade, unindo os 60 anos da Missão Catrimani ao primeiro aniversário da canonização de São José Allamano, Fundador dos Missionários e Missionárias da Consolata.

Participaram diversos missionários: padre Mário Gamba, padre Máximo, padre Joseph Mugerwa, padre Rosarinho Dall’Agnese, padre Filbert Nkanga, padre Bento Eugenio, padre Bob Mulega e padre Alexander Nthenge, além dos Irmãos, Carlos Zaquini e Ayres Osmarim, várias religiosas, leigos que presentes no seminário.

Durante a celebração, padre Bento fez a leitura de um artigo relembrando o processo e o significado da canonização ocorrida em 20 de outubro de 2024, em Roma, com a missa presidida pelo Papa Francisco.

Foi justamente na Missão Catrimani, que ocorreu o milagre da cura, por intercessão do Beato Giuseppe Allamano, do indígena Sorino Yanomami, atacado e gravemente ferido por uma onça em 7 de fevereiro de 1996. Essa graça tornou possível a canonização de São José Allamano, reconhecido como modelo de santidade missionária, cuja vida se alicerçou na fé, na caridade e na confiança em Maria Consolata. O milagre de Sonino confirma como Deus olha com amor para todos os povos do mundo e nos encoraja a continuar esta forma de estar presente.

Não podemos, portanto, ignorar os povos indígenas, que são os verdadeiros guardiões dos pulmões do mundo. Suas comunidades continuam sofrendo violência e atrocidades devido à invasão de seus territórios.

Em sua homilia, padre Murimi destacou o espírito de consolação como núcleo da espiritualidade dos missionários e missionárias da Consolata, recordando que o mesmo Espírito que consolou Nossa Senhora e sustentou São José Allamano é o que anima cada missionário a ser “consolado para consolar”. A Missa encerrou-se com uma bênção solene, seguida de um momento de confraternização e partilha fraterna, celebrando a história e renovando o compromisso com a missão.

Uma história que continua

As celebrações dos 60 anos da Missão Catrimani e do primeiro aniversário da canonização de São José Allamano foram mais do que recordações: foram um ato de fé e renovação missionária. Foram dias de reencontro, partilha e reflexão sobre a caminhada junto ao povo Yanomami – um povo que acolheu e transformou também os missionários, mostrando o verdadeiro rosto do Evangelho. A Missão Catrimani continua viva, sustentada pelo mesmo espírito que inspirou São José Allamano: “Ser santos e missionários, nada mais”.

* Bob Mulega, IMC, é missionário da Consolata na Missão Catrimani, Roraima, Brasil.

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