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Missão em Contexto

Primeiro contato com o Ano Novo no Uzbequistão

O que nos move agora é o essencial: rezar e nos esforçar para que o nosso coração seja realmente preparado para acolher Jesus, pois somente assim poderemos transmiti-Lo para as demais pessoas deste país, mesmo sem dizer uma só palavra, apenas com o nosso testemunho.

Por Andrea Leite Carvalho

O Uzbequistão, situado no coração da Ásia Central, possui uma longa história marcada por dinastias antigas, caravanas da Rota da Seda e uma forte identidade cultural. Contudo, muitas das celebrações contemporâneas, especialmente aquelas relacionadas ao calendário civil, foram profundamente influenciadas pela presença da União Soviética ao longo do século XX. Entre essas celebrações, destaca-se o Ano Novo de 1º de janeiro.

A celebração do Ano Novo em 1º de janeiro não é tradicional das culturas turcomanas ou persas que formam a base da identidade uzbeque. Antes da presença soviética, o povo celebrava principalmente o Navruz, no dia 21 de março, como o verdadeiro marco do ano novo (UNESCO, 2023). O Navruz, ligado ao equinócio da primavera, é uma festa com mais de 3.000 anos de história e faz parte da herança cultural comum de vários povos da Ásia Central (Foltz, 2019).

Com o avanço soviético na década de 1920, festividades religiosas foram desencorajadas. Para criar um calendário civil unificado, o governo promoveu o Ano Novo laico, com símbolos como a árvore de Ano Novo e a figura de Ded Moroz (Frolova-Walker, 2016).

A partir da década de 1930, praças e espaços públicos passaram a ser decorados com enfeites luminosos. Esse costume foi assimilado pelo país e hoje faz parte do calendário cultural anual (Khalid, 2021).

Ded Moroz e Snegurochka eram figuras amplamente utilizadas nas celebrações soviéticas. No Uzbequistão, surgiram versões adaptadas: Korbobo (vovô da neve) e Korkiz (menina da neve), que preservam o caráter festivo e secular da tradição (Reeves, 2014).

A hospitalidade é uma marca da cultura uzbeque. Durante o Ano Novo, a dastarkhan - mesa tradicional - reúne frutas, nozes, doces e pratos típicos. A celebração ocorre majoritariamente dentro das casas. As famílias acompanham programas de televisão e trocam votos de prosperidade à meia-noite, enquanto fogos aparecem discretamente no céu (Khalid, 2021).

O país celebra dois "anos novos": o Ano Novo soviético e o Navruz ancestral. Ambos convivem harmoniosamente, refletindo a complexidade cultural histórica (Foltz, 2019). Conhecer essas tradições permite compreender como se constroem culturas e se transformam. A celebração do Ano Novo oferece uma oportunidade de diálogo e aproximação com a riqueza humana presente no Uzbequistão.

Nossa relação com a nova realidade

Como nossa comunidade é formada por quatro nacionalidades diferentes, está sendo um ano totalmente novo para nós e cada celebração ou festa se torna oportunidade de aprendizagem. Para mim, o que mais me toca o coração até agora, é a diferença grande entre viver em um país cristão como o Brasil e, pela primeira vez, viver em um país mulçumano, mas com pouca expressão religiosa. Todas as luzes nos fazem lembrar o Natal, mas para eles é apenas a espera do Ano Novo.

Pensar na possibilidade de viver um Natal bem mais reservado, com pequenos gestos escondidos aqui entre nós, me faz pensar que finalmente farei a experiência que fez Maria e José naquela cidade de Belém onde todos seguiam as suas vidas e muitos outros bebês nasciam. Perdemos muito a capacidade de centrar o Natal em Jesus e pensamos mais na roupa que devemos usar, nos presentes que precisamos comprar, no que se comerá...

O que nos move agora é o essencial: rezar e nos esforçar para que o nosso coração seja realmente preparado para acolher Jesus, pois somente assim poderemos transmiti-Lo para as demais pessoas deste país, mesmo sem dizer uma só palavra, apenas com o nosso testemunho. Assim também o Ano Novo, desejo com o meu coração que todos possam voltar ao essencial, lembrando que sem Deus não podemos fazer nada!

Que em 2026, nossos corações possam ser mais abertos para a graça e o amor de Deus que quer se derramar em abundância e que o nosso amado Brasil seja ainda mais abençoado com as bênçãos do céu!

Andrea Leite Carvalho, MC, é missionária no Uzbequistão. 

Fontes: Foltz, R. (2019). A History of the Peoples of Central Asia. Oxford University Press;  Frolova-Walker, M. (2016). Stalin’s Music Prize: Soviet Culture and Politics. Yale University Press; Khalid, A. (2021). Central Asia: A New History from the Imperial Conquests to the Present. Princeton University Press; Reeves, M. (2014). Border Work: Spatial Lives of the State in Rural Central Asia. Cornell University Press; UNESCO. (2023). "Navruz: traditions and practices." Intangible Cultural Heritage List.e United Nations FAO. (2020). Fruit Production in Central Asia: Preservation Practices and Seasonal Traditions.

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