Cúpula dos Povos na COP30
Documento final da Cúpula dos Povos apresentou críticas ao modelo econômico global e propôs agenda de justiça climática à Conferência das Partes da ONU.
Após cinco dias de debates, assembleias populares, atividades culturais e intercâmbios entre organizações do mundo inteiro, a Cúpula dos Povos encerrou seus trabalhos em Belém, PA, divulgando a Declaração Oficial rumo à COP30. Realizado entre 12 e 16 de novembro, o encontro reuniu mais de 70 mil pessoas na capital paraense, destacando-se como uma das maiores mobilizações sociais anteriores a uma Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas.
Participaram movimentos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, povos de terreiro, quebradeiras de coco babaçu, populações urbanas periféricas, sindicatos, organizações feministas, juventudes, coletivos LGBTQIAPN+ e delegações internacionais de todos os continentes. A tônica da declaração final foi clara: os povos querem ser protagonistas das soluções climáticas e rejeitam modelos baseados na financeirização da natureza e na privatização dos bens comuns.
Críticas
O documento responsabilizou o modo de produção capitalista por aprofundar a crise climática, denunciando a atuação de corporações transnacionais dos setores de mineração, agronegócio, energia, armas e tecnologia como principais beneficiárias de um modelo que, segundo o texto, sacrifica territórios e populações vulneráveis.
A Declaração também manifestou forte crítica ao imperialismo estadunidense, especialmente sua presença militar no Caribe, e ao que classificou como “intervenções que ameaçam a soberania dos povos”. O texto expressa solidariedade a países e movimentos sob pressão geopolítica, incluindo Venezuela, Haiti, Cuba, Panamá, Nepal, Sudão e nações do Sahel africano.
Em um de seus trechos mais contundentes, o documento denunciou como genocídio as ações do Estado de Israel contra o povo palestino, mencionando deslocamentos forçados e mortes de civis. A Cúpula reafirmou apoio ao movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS).
Além disso, os participantes afirmaram que o multilateralismo atual está em crise, apontando que décadas de conferências climáticas não foram capazes de enfrentar as causas estruturais da emergência ambiental global.
Guardiões e construtores das verdadeiras soluções
Segundo a Declaração, os territórios indígenas, quilombolas, camponeses e periféricos são simultaneamente os que mais sofrem com eventos climáticos extremos e os que mais contribuem para proteger ecossistemas essenciais. Por isso, defendem: a demarcação e a proteção imediata de terras indígenas e territórios tradicionais; desmatamento zero, fim das queimadas criminosas e recuperação de áreas degradadas; agroecologia e reforma agrária popular para garantir soberania alimentar; combate ao racismo ambiental, com políticas de saneamento, moradia e transporte público; participação popular na formulação de políticas climáticas urbanas e rurais e a proteção de defensores ambientais, alinhada ao Acordo de Escazú.
A Cúpula também destacou o papel central do feminismo e do trabalho de cuidado, defendendo sua valorização como parte essencial da economia e da vida.
Propostas
Entre as principais reivindicações da Cúpula foram destacados o fim da exploração de combustíveis fósseis e criação de mecanismos globais para impedir sua expansão; a transição energética justa e soberana, que reconheça energia como bem comum; a reparação de perdas e danos provocados por desastres climáticos, barragens e mineração; a taxação de corporações e das grandes fortunas para financiar políticas públicas e adaptação climática; a reforma da governança internacional, retirando o protagonismo de instituições como FMI e Banco Mundial; instrumentos jurídicos internacionais vinculantes para responsabilizar empresas transnacionais por violações socioambientais; a valorização do trabalho de reprodução da vida, com autonomia e direitos para as mulheres e a transição popular que respeite a soberania dos povos, especialmente em regiões sensíveis como a Amazônia.
Chamado final
A Declaração encerrou com um apelo à unidade internacional dos povos para enfrentar as múltiplas crises que atingem o planeta: “Se a organização é forte, a luta é forte. Povos do mundo: uni-vos.”
O documento foi apresentado como posição política unificada da sociedade civil na COP30, que foi realizada em novembro de 2025, também em Belém, PA.
Fonte: Declaração Final da Cúpula dos Povos rumo à COP30 (Belém, 12 a 16 de novembro de 2025)