A santidade de todos os dias
A santidade que o mundo de hoje precisa não faz barulho. Não veste trajes brilhantes, nem espera estátuas ou procissões. A santidade que importa é a da vida, não a dos altares.
Há palavras que soam antigas, mas conservam uma juventude eterna. SANTIDADE é uma delas. Não se trata de um heroísmo reservado a poucos, nem de uma fuga para um céu distante.
Para São José Allamano, a santificação é o ar que o missionário respira. É a terra onde pisa. É o dom primeiro, aquele que dá sentido a todos os outros, por isso a sua insistência quando diz: “primeiro santos, depois missionários”. A santidade que precisa o mundo de hoje não faz barulho. Não veste trajes brilhantes, nem espera estátuas ou procissões; porque a santidade verdadeira é aquela que se mistura com o cotidiano, sem perder a luz da graça que nos santifica. Allamano era claro: “Tenho medo de que façais milagres.” E por quê? Porque a tentação de brilhar pode ser mais forte do que a vocação de servir. Ele preferia que pedíssemos a Deus os caminhos simples, os que nos permitem fazer o bem sem palco, amar sem plateia e oferecer sem registros. A santidade que importa é a da vida, não a dos altares. É aquela que se tece com gestos pequenos: a escuta ativa do outro, a fidelidade ao dever, o tempo oferecido com paciência e a oração perseverante que insiste mesmo no silêncio. Essa é a santidade que transforma o mundo sem que o mundo perceba. Talvez a grande revolução espiritual do nosso tempo não seja fazer coisas grandes, mas fazer as coisas de sempre com um coração renovado. Porque é aí, nos detalhes, que Deus se revela. São José Allamano, fundador dos Missionários e das Missionárias da Consolata, não exigia uma santidade heróica, mas uma santidade possível. A que nasce do cotidiano. Da vida bem vivida, sem espetáculo. Da oração feita no silêncio. Da escolha certa feita quando ninguém está olhando. O primeiro fim do Instituto, dizia o Allamano, é a santificação de seus missionários. Isto nos ensina que a missão começa no interior do missionário. Antes de levar o Evangelho, é preciso deixar-se evangelizar. Antes de falar de Deus, é preciso aprender a escutá-Lo dentro de si, na lentidão dos dias, no silêncio do coração. A santificação é este labor secreto, uma arte paciente de deixar que o Amor nos modele até nos tornarmos instrumentos dóceis nas mãos de Deus.
A santidade não é um estado, mas uma viagem ao alcance de todos. O homem e a mulher de fé não partem já santos, mas se vão santificando no caminho, no encontro com as feridas e esperanças do dia a dia. Para isso, é importante compreender que Deus não nos pede grandes coisas, mas fidelidade no pequeno, ternura no serviço e humildade no olhar. Ser santo ou santa é deixar que Deus respire em nós. É fazer da vida uma mesa preparada, onde outros possam encontrar o alimento e a consolação que Deus oferece sem pedir nada em troca. É viver de tal modo que, mesmo sem palavras, a própria existência se torne Evangelho.
Mauricio Guevara, imc, é formador do Seminário Internacional Teológico João Batista Bisio, São Paulo, SP.