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Missão em Contexto

Farol de Esperança II

No caminho de Francisco

Por Juan Carlos Greco

O Instituto Missões Consolata (IMC) tem uma relação muito ativa e comprometida com os migrantes, especialmente nas Américas. Seu carisma de “consolar” o leva a contemplar e adentrar cada vez mais a realidade a partir da perspectiva dos mais vulneráveis. Entre eles, estão os migrantes que partem em busca de melhores condições de vida e oportunidades para si mesmos e para seus filhos. Junte-se a essas jornadas por meio destas páginas para, quem sabe, ser encorajado a consolar efetivamente pelo menos um migrante ou refugiado, ou a se juntar ao nosso serviço. Vamos! Vamos caminhar...

Não há dúvida que as ações e palavras do Papa Francisco estiveram ligados aos migrantes. É difícil resumir em poucas linhas o rico magistério sobre os migrantes que atravessou profundamente o seu Pontificado e que está amplamente reunido em “Luzes nas Estradas da Esperança” (volume de ensinamentos do Santo Padre sobre o cuidado pastoral de migrantes, refugiados e vítimas de tráfico. 2019). Mas os escritos principais (contribuições significativas) do Papa foram as suas visitas, “gestos de proximidade”. 

Em 2013, no dia seguinte à sua eleição, Francisco realizou sua primeira viagem apostólica a Lampedusa, na fronteira da Itália, que de estrada e caminho de esperança se tinha transformado para muitos migrantes de um caminho de fuga para um lugar de sofrimento, um cemitério. O Papa chamaria à responsabilidade de todos para com os irmãos e irmãs migrantes, repetindo: “Onde está o teu irmão?” (Palavras de Deus a Caim).

A partir daquele dia

Foram 12 anos de Pontificado, nos quais os migrantes sempre foram seu compromisso e tentou que fosse também das comunidades cristãs, das instituições eclesiais e civis. Insistiu para que todos trabalhem para proteger os direitos fundamentais daqueles que, sobretudo, foram forçados a deixar – devido às guerras, desastres ambientais, pobreza, exploração, perseguição política ou religiosa – a terra onde viviam.

Nesse mesmo ano na Evangelii Gaudium nos exortou a refletir sobre como as estruturas de acolhimento e as nossas atitudes podem ser um sinal concreto do amor de Cristo por todos: “Cada estrangeiro que bate à nossa porta é uma oportunidade de encontro com Jesus Cristo” (n. 39). Mesmo na sua segunda encíclica, Laudato Si’, de 2015, Francisco demonstrou uma atenção paterna para com os migrantes. Ele nos convidou a refletir sobre como as crises ecológicas e sociais eram duas faces da mesma moeda.

A escolha de Francisco de impor a questão dos refugiados ambientais à agenda do debate público assumiu um significado particularmente relevante (em um contexto em que a tendência era estreitar as margens da proteção internacional e do direito de asilo).

Indo pessoalmente abraçar, tocar, falar com aquela humanidade ferida que fugia das guerras Francisco (abril de 2016), visitou o campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos (Grécia). 

Mensagem paterna e fraterna

Por ocasião do XIV Capítulo Geral do Instituto dos Missionários da Consolata em 2023, o Papa Francisco enviou uma mensagem: 

“Encorajo-os a identificar caminhos espirituais e pastorais para continuar com renovado entusiasmo a missão da Congregação, segundo o carisma do Fundador, José Allamano, alimentando, com a ajuda da graça divina e da oração, o desejo de difundir em toda a parte, especialmente nas periferias existenciais, a luz vivificante do Evangelho”.

Portanto, devemos entender “especialmente as periferias existenciais” como o lugar para estar presente. As periferias existenciais das nossas cidades são densamente povoadas por pessoas descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, pobres e sofredoras. Muitos migrantes e refugiados encontram-se nesta situação existencial ou "logo": nas ruas, em centros de acolhimento (abrigos), em quartos superlotados, pequenos e com aluguel caro, nesta situação de rejeição, sofrendo sobretudo de xenofobia e aporofobia. Fomos, em certo sentido, enviados para consolar os migrantes nesta situação existencial e nas suas aflições e para lhes oferecer misericórdia; para saciar a sua fome e sede de justiça. Para os ajudar a sentir a paternidade carinhosa de Deus, descobrindo com eles e através deles o caminho para o Reino dos Céus.

Francisco convida-nos...

Diz o padre Lengarin, Superior Geral dos Missionários da Consolata “Tudo isto nos mostra que a Igreja teve um profeta, o Papa Francisco. O profeta vai mais além e isto mostra o espírito de Deus que nos impele a ir mais além nas nossas vidas. Creio que este é o legado que recebemos do Papa Francisco. Continuemos nesta herança para nos renovarmos e renascermos”.

Em seu sexto ano como Pontífice, Francisco declarou: "São pessoas; não se trata apenas de questões sociais ou migratórias! Não se trata apenas de migrantes, no duplo sentido de que os migrantes são, antes de tudo, seres humanos, e hoje são o símbolo de todos aqueles descartados pela sociedade globalizada".

O legado de Francisco nos convida a "fazer teologia a partir das periferias existenciais". Deus a quem muitos migrantes se voltam reflete as características do cuidado com os outros. Sua ação se manifesta por meio de sacerdotes, religiosos e outros fiéis nos quais encontra apoio. Ao encontrar figuras autênticas machucadas, conseguimos nos aproximar de Deus e reconciliar muitas pessoas "feridas" na fé. Para milhares de migrantes, Deus é Aquele que não abandona, que salva.

A "energia migrante" também surge da capacidade de reação dos "refugiados à margem". Eles não esperam confiantemente que lhes seja concedido um lugar na Igreja. Portanto, se quisermos ser o rosto missionário de uma Igreja em saída, devemos trabalhar arduamente para integrá-los eclesiástica e socialmente ao mesmo tempo.

Sonho de um projeto

Em parte, estamos fazendo isso. Em parte, gostaríamos de contar com vocês para isso. É um sonho ou uma aspiração: O extraordinário deste projeto é justamente que ele nos tirará dos livros e nos mergulhará nas histórias de muitos irmãos e irmãs migrantes. Ouvi-los como seres humanos feridos nos permitirá saltar do mundo das ideias para o da realidade. Através de suas vidas, Deus falará conosco e tocará nossos corações, ajudando-nos a ouvir juntos a sua Palavra, a rezar e a compartilhar uma nova experiência que nos ajudará a converter. No final, quem ajudar será duplamente ajudado.

Graças às pessoas das periferias, experimentamos Deus que se fez carne e veio habitar entre nós, o Logos encarnado de que fala o Evangelho e nem sempre os catecismos. Se você quiser participar ou saber mais sobre isso, entre em contato conosco.

Juan Carlos Greco, imc, é missionário da Consolata em Roraima, junto ao povo warao.

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