Guiné Bissau, uma vida em missão
Irmã Maria de Lourdes Pereira, missionária da Consolata na Guiné Bissau desde 2003, relata seu trabalho e experiência missionária.
Depois de concluído o tempo de formação em Rio do Oeste, SC, e em São Paulo, SP, em 1972 fiz minha primeira Profissão Religiosa. Continuei minha formação e preparação para a missão e em 1979 fiz meus votos definitivos como Missionária da Consolata.
Em 1980 parti para a missão na Libéria, África Ocidental, e permaneci lá por seis anos. Retornei ao Brasil por causa dos grandes conflitos de guerra naquele país, porém na esperança de um dia retornar. Com aquele povo aprendi a dar os primeiros passos no caminho da inculturação e evangelização. Um povo festivo, alegre e aberto aos valores do Evangelho, porém, com a guerra de 14 anos, a realidade foi transformada em ódio e violência entre as etnias, na disputa pelo poder. Quando tudo parecia calmo, recebi a graça de retornar à Libéria em 2003, mas enquanto estava me preparando na Itália, explodiu mais um ano de guerra.
Desta forma fui enviada à Guiné Bissau esperando que tudo normalizasse para seguir a minha destinação. O meu sonho se fixou na Guiné Bissau onde continuo até os dias de hoje. No ano de 2022 em férias no Brasil, celebrei meu Jubileu de Ouro de Profissão Religiosa, com meus familiares. Meus parentes realizaram uma grande festa e escreveram num pôster “Uma vida em Missão”, para me parabenizar.
Na Guiné Bissau
Já transcorri 22 anos de presença na Guiné Bissau. Realizei o trabalho missionário em três comunidades: Bubaque, Empada e Bór.
Bubaque
Minha primeira missão, localizada no arquipélago dos Bijagós, com mais de 80 ilhas, na sua maioria habitada. Atuava na primeira evangelização e na área de saúde no centro de recuperação nutricional. Enfrentava os perigos do mar e das florestas nativas para ir ao encontro das mães e crianças desnutridas nas diferentes ilhas, remando de canoa. Todo esse sacrifício e dedicação era o amor aos doentes para salvar vidas. Na convivência com estas pessoas das ilhas, aprendi a viver o momento presente no despojamento, na fé e a crescer na esperança de um futuro melhor para todos. Por falta de recursos humanos para aquela realidade, deixamos a missão de Bubaque em outubro de 2023.
Empada
Primeira missão das Irmãs Missionárias da Consolata na Guiné Bissau (1992). Localiza-se no interior do país a 300 km da capital Bissau. As irmãs habitam entre a etnia Biafada, toda muçulmana e outras etnias advindas de outras regiões do país. Nesta missão trabalhei na evangelização e no Centro de Recuperação Nutricional e farmácia onde se atende pessoas de mais de 80 vilas (tabancas) do setor de Empada. Nesta realidade há muitos desafios na área da saúde, da educação, no auto-sustento, problemas que abalam profundamente a população. Todos os dias há pessoas que batem à nossa porta em busca de ajuda e de uma palavra de consolação e orientação. O povo ainda é muito apegado à sua cultura tradicional e cerimônias, dificultando a inculturação do Evangelho.
Bór
Periferia da capital, Bissau. É uma comunidade nova, mas muito viva por ser a maioria composta por jovens que participam das inúmeras atividades da paróquia e buscam o batismo. Chegam do interior do país para estudar ou trabalhar. São mais de 1000 catecúmenos, que exigem bons catequistas e orientadores dos grupos. As diferentes etnias formam uma comunidade multicultural, alegre, aberta para acolher o Evangelho e fazer-se presente, sedentos de Deus. Atualmente vivo aqui em meio a este povo, com a esperança de um futuro melhor para ele, que mesmo em meio a tantos desafios, não perdem a confiança num mundo melhor. O testemunho desta comunidade paroquial me motiva e anima a caminhar com eles na partilha e no serviço do Reino.
Ser missionária nesta terra, da Guiné Bissau, onde a vida, a saúde, a educação e a luta pela sobrevivência para aliviar a fome das pessoas é uma ameaça, é um contínuo desafio missionário e um grande apelo a defender a vida no serviço generoso e gratuito, na convicção de ser uma servidora do Senhor. Agradeço a Deus o dom da vocação missionária e a possibilidade de fazer missão onde o Senhor me enviou. A cada dia que passa, aprendo com o nosso Santo Pai Allamano a crescer na santidade nesta realidade tão carente de tudo.
Maria de Lourdes Pereira, MC, é missionária na Guiné Bissau.