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Entrevista

Entrevista com o padre Luís Maurício Guevara, novo colunista do Portal Consolata Brasil

A comunicação é um dom precioso é uma forma de tocar o outro sem invadi-lo. As tecnologias, como toda criação humana, podem ser pontes ou muros.

Por Redação

Padre Luiz Mauricio Guevara é missionário da Consolata, reitor e formador no Seminário Teológico João Batista Bísio, localizado no Alto do Ipiranga, na divisa com a Favela de Heliópolis, uma das maiores da cidade de São Paulo. 

Padre Mauricio é argentino e após o término do Noviciado em Martín Coronado (2000), sua terra natal, estudou teologia no então Seminário Internacional de Kinshasa (2000-2005), na República Democrática do Congo, onde foi ordenado diácono e exerceu esse ministério. Após sua ordenação sacerdotal na Argentina (2005), trabalhou com Animação Missionária e Vocacional em Portugal e foi Superior Regional na Argentina por seis anos, acompanhando a vida e a missão de muitos confrades.

Padre Maurício aceitou ser colunista e articulista do novo portal Consolata Brasil e escreverá semanalmente para o novo site Também será responsável pela rubrica Pró-vocações da revista Missões.

Em entrevista exclusiva para a revista Missões e o novo portal, padre Maurício destaca que a comunicação é fundamental para a evangelização.

Padre Maurício, como reitor do Seminário Internacional dos Missionários da Consolata, como analisa a questão vocacional na atualidade? Num mundo voltado para o materialismo e o individualismo, Deus continua chamando as pessoas para a vocação religiosa? Os jovens conseguem escutar ao chamado?

Vivemos num tempo em que as vozes se multiplicam, mas os espaços para o silêncio rareiam. E é justamente no silêncio que o chamado de Deus se faz mais audível. Num mundo cada vez mais voltado para o imediato, para o ter e possuir, para o brilho das aparências, a vocação se apresenta como um movimento contrário, não como algo que recusa esta nova realidade, mas no sentido da dinâmica da vocação, que nos exige e convida a mergulhar mais profundo na vida. Sim, Deus continua chamando. Ele nunca deixou de chamar. O que muda, talvez, é a nossa disponibilidade para escutar. E essa escuta, nos dias de hoje, é um verdadeiro ato de coragem. Quando um jovem, em meio ao barulho do mundo, ousa perguntar “para quê fui criado?”, “qual é o sentido da minha vida?”, ali o milagre da vocação se ativa e renova. Como missionário, não me canso de me surpreender com os pequenos sinais do Espírito: um olhar inquieto, uma pergunta sincera, um gesto gratuito de compaixão. Deus continua semeando. E os jovens, apesar das distrações, continuam sendo terra boa. 

Por que Missionário da Consolata? 

Porque a consolação de Deus não é uma ideia, é um rosto, é um encontro, é um modo de estar no mundo. Fui atraído por essa espiritualidade e carisma que acredita que consolar não é apenas aliviar a dor, mas habitar com ternura o território sagrado da dor do outro. Ser missionário da Consolata é acreditar que ninguém está só. É caminhar com os povos, com suas feridas e esperanças, e anunciar com a própria vida que Deus é presença amorosa em cada passo que damos enquanto escrevemos a nossa história humana. O que me atraiu? Talvez a beleza escondida do nome: “Consolata”. Um nome que fala de cuidado, de consolação, de anúncio e Boa Notícia. E ser missionário, para mim, é isso: ir mais além das fronteiras para partilhar tudo o que ser “um Consolata” representa. 

É difícil ser formador? 

É profundamente humano. E por isso, é exigente e cheio de graça. Formar futuros missionários é como cuidar de um jardim em tempo incerto: o terreno nem sempre é fértil, o clima é imprevisível, e o jardineiro não tem o controle. Mas há beleza em acompanhar o florescer e o dar fruto do outro. Há alegria em ver um jovem descobrir-se amado por Deus, apaixonar-se pelo Evangelho e escolher viver e anunciá-lo com a própria vida. Os desafios são muitos, sim. Vivemos tempos instantâneos, líquidos, frágeis, impacientes. Mas o coração humano continua buscando o essencial. E acompanhar um jovem nesse caminho de discernimento é, para mim, uma das formas mais fecundas de evangelização. Ser formador é aceitar, todos os dias, ser também formado. É aceitar que o outro, com suas luzes e sombras, também me transforma.

Acha que as novas tecnologias, as redes sociais facilitaram ou complicaram o relacionamento entre as pessoas? Qual o valor da comunicação na formação ou evangelização? 

A comunicação é um dom precioso é uma forma de tocar o outro sem invadi-lo. As tecnologias, como toda criação humana, podem ser pontes ou muros. Tudo depende do uso, da intenção e da liberdade interior. O grande risco é perdermos o sabor do encontro verdadeiro. Podemos falar com o mundo todo e, ainda assim, não escutar ninguém. Penso que as novas tecnologias também poderiam fornecer novos caminhos de educação para a escuta e para o silêncio. Na evangelização, as redes podem ser instrumentos preciosos, desde que sejam usadas como extensão do coração. O Evangelho se comunica não apenas em palavras, mas no modo como olhamos, como escutamos, como estamos com o outro. O verdadeiro discipulado é sempre relacional. E a missão começa ali onde nos dispomos a sair de nós mesmos para encontrar o outro, presencialmente ou por meio de uma tela, mas sempre com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças.

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