E se tua vida fosse mais do que isso?
Agosto é o mês vocacional na Igreja no Brasil. Mês de escuta e disponibilidade. A vocação, antes de ser um “fazer”, é um modo de ser.
Por Luís Maurício Guevara
Vivemos rodeados por urgências. Tudo nos apressa, nos exige, nos consome. E, no entanto, há uma voz que não grita, que não disputa espaço, que não invade, apenas chama. O mês vocacional é este tempo de escuta e disponibilidade. Não para encontrar todas as respostas, mas para reaprender a arte de perguntar com sinceridade e buscar as respostas bem no profundo de nós. A vocação, antes de ser um “fazer”, é um modo de ser. É uma escuta que atravessa a vida inteira. Não é uma ideia abstrata, nem uma exigência pesada que nos obriga a ser “alguém especial”.
A vocação é o nome com que Deus nos chama quando nos olha com amor. Talvez por isso tantos não ouvem a voz de Deus. Porque o barulho é mais confortável do que o silêncio. Porque é mais fácil fugir do que parar. Mais simples é ser e fazer de “tudo um pouco” do que ser inteiro e pleno em algo. Mas o chamado de Deus não nos pede pressa. Pede coragem. Ele vem ao nosso encontro nos fatos e acontecimentos dos dias comuns. Na fadiga, na ternura, nas dúvidas, na beleza de um gesto gratuito. É ali que Ele nos sussurra: “E se a tua vida fosse mais do que isso? E se o teu dom, ao ser partilhado, fosse também o teu caminho?”
Neste mês, talvez não precisemos de campanhas vistosas ou de grandes discursos. Talvez baste uma oração murmurada no silêncio da alma, uma pergunta deixada em aberto, uma escuta sem defesas. Porque Deus continua chamando. E a vocação continua sendo uma aventura transcendente, jamais um rótulo ou moda do momento. A vocação não é um plano de carreira, nem uma fuga do mundo. Ela é, talvez, a resposta mais verdadeira que podemos dar à vida. Uma vida que nos foi dada não como um acaso, mas como dom, como possibilidade, como promessa. Alguns serão chamados ao altar. Outros ao matrimônio, à missão, à vida laical comprometida. Mas todos somos chamados a ser terra fértil, jardim cultivado, rosto iluminado pela presença de Deus. O mês vocacional não é um convite a sermos “perfeitos”, mas a sermos “fiéis”. Não é sobre função, é sobre sentido. E esse sentido se revela quando ousamos amar sem reservas. Quando deixamos Deus nos escrever, como quem escreve um poema com palavras de carne e de tempo.
Luis Maurício Guevara, imc, é reitor do Seminário Internacional João Batista Bísio, dos Missionários da Consolata.