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Allamano

“Antes Santos, depois Missionários”

Artigo da revista Andare alle genti, das Missionárias da Consolata da Itália fala sobre a busca da santidade e de São José Allamano.

Por Redação da revista Andare alle genti

José Allamano nasceu em 1851, em Castelnuovo, interior da Itália e de algum modo a dimensão do território, os limites e as fronteiras lhe pertencerá para sempre.

Ele parte para o seminário de Turim, mas uma parte dele permanecerá sempre em Castelnuovo, onde sabe fazer-se presente para quem está em necessidade (e de um modo muito discreto).

Ele sonha em partir como missionário para a África, mas a sua saúde e os seus Superiores o seguram na sua Diocese, ou melhor, à sombra de um campanário, aquele do Santuário Mariano da Consolata, no coração da cidade de Turim. Ele permanecerá ligado à sua Igreja Local por uma verdadeira e pessoal paixão, como sacerdote diocesano, até a sua morte, em 1926.

A “proximidade” à Virgem Consolata faz crescer em Allamano a consciência de que a salvação através da fé cristã é na verdade, oferecida a todos. Ele se empenha para renovar e restaurar o Santuário, “envelhecido” seja nas estruturas físicas como também na devoção; mas enquanto isso cultiva em si um horizonte global, dando vida a dois Institutos Missionários. Com um perfil carismático, com alma e corpo se envolve na vida social e eclesial da cidade de Turim com uma série surpreendente de iniciativas, enquanto isso o fogo da missão cresce e alcança latitudes impensáveis, enquanto ele mantém um contato constante com os seus missionários que estão além-oceanos e segue de perto cada pequeno desenvolvimento da missão.

Não existe contraposição entre local e universal como também não existe oposição entre evangelização e promoção humana. Tudo se harmoniza na experiência de quem se deixa guiar pelo Espírito. Aqui está toda a santidade.

José Allamano. Um de nós e Santo.

Redação da revista “Andare alle genti” - Maio/Junho 2024

Allamano

Os nossos amigos, heróis vencedores

“Cremos nos Santos porque a vida que Deus começou em nós não se encerra com a morte. Oração, milagres: a força do espírito para fazer crescer a nossa Fé. O caminho da Igreja.”

Por Lucio Casto

Ao aproximar-se o Ano Santo de 2025, ficamos sabendo que, o então Papa Francisco, faria numerosas canonizações, entre as quais aquela do Bem-aventurado padre José Allamano. A Igreja, portanto, continua a ter como importantes estas proclamações solenes. A razão para isso é clara: proclamar que os cristãos vividos antes de nós alcançaram os graus mais altos da santidade é uma prova daquilo que afirmamos quando rezamos o Creio: “Creio na Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica”.

Mas, a Igreja é verdadeiramente santa, com todos os escândalos dos quais pouco a pouco tomamos conhecimento? É uma pergunta que se fez também o último Concílio, à qual respondeu dizendo que a Igreja já nesta terra é adornada de verdadeira Santidade, também se imperfeita (LG 48). E ainda: esta Santidade da Igreja se manifesta constantemente e deve se manifestar nos frutos da Graça que o Espírito produz nos fiéis (LG 39).

Uma definição sintética da Santidade pode ser esta: “O Santo é um fiel discípulo de Cristo que se esforça, também de forma heroica, de viver dia a dia o caminho do Evangelho nas suas condições concretas de vida, auxiliado pelos meios de Salvação que Cristo concedeu à Sua Igreja, em particular a Palavra de Deus, os Sacramentos e a Oração. Compreendemos assim que o caminho da Santidade não é só para poucos e não é nem mesmo demais difícil, mas é aberto a todos os batizados”. Dom Bosco dizia isso constantemente aos seus jovens do Oratório, em Valdoco. Quando, porém, o Papa proclama solenemente a santidade alcançada por um cristão, afirma também que ele viveu as virtudes cristãs até o grau heroico, mesmo em meio às dificuldades da vida, que não faltam a ninguém, trazendo frutos copiosos de bem. Por conseguinte, o Santo é para todos um modelo de vida particularmente alcançado por obra da Graça de Deus, que o plasmou dia a dia até fazê-lo tornar-se uma imagem vivente do Cristo. Por isso olhando a vida dos Santos, podemos perceber uma realidade, dizendo pouco, maravilhosa. De fato, como todos sabem, os santos nas suas diversas condições de vida e nas diversas épocas nas quais viveram, não são a fotocópia um do outro, mas são entre eles muito diversos: a Vida de Santo Antônio (IV século), que viveu sua experiência cristã morando como solitário no deserto e tornando-se depois pai espiritual de muitos monges, é exteriormente muito diversa daquela de São José Allamano, que viveu como padre em tempos muito próximos a nós, em uma cidade de Turim, rica de condições cristãs, formador de padres, Reitor do Santuário da Consolata e Fundador de duas famílias religiosas missionárias. Mas, mesmo aqui está o milagre a serviço do Espírito Santo: o único Evangelho de Cristo plasmou uma pluralidade de santos , todos fiéis seguidores de Cristo, todos animados pelo Seu Espírito, todos, de muitas formas diversos entre si. É o Espírito de Deus que trabalha esta maravilha: a única vocação batismal e a multiplicidade dos dons e das vocações individuais, na mudança dos tempos e das condições particulares de vida.

Assim, torna-se uma tarefa importante conhecer a vida dos santos: o seu heroísmo cristão nas diversas épocas e situações da vida. Diz Papa São João XXIII que quando era jovem seminarista acreditava que devia imitar literalmente aqueles santos que, então, eram particularmente propostos como modelos. Crescendo, se deu conta que isto era, por vários motivos, impossível: como poder reviver um modelo de vida santa de um São Luiz, que viveu  três séculos antes, educado em uma família nobre, animado de uma especial vocação de austeridade no interior da vida religiosa dos jesuítas? O jovem seminarista Roncalli devia compreender que não era possível imitar a moldura exterior de um santo, mas o exercício das suas virtudes especialmente a determinação em combater seus próprios defeitos morais, o espírito de oração com que alcançou um alto grau de amor de Deus, a penitência com a qual suportava, em espírito de fé as provas de sua vida, a caridade que exercitava cotidianamente também para com a s pessoas não certamente amáveis. 

Existe ainda outro aspecto que a Igreja quer evidenciar quando proclama a santidade de um cristão: o seu poder de intercessão junto a Deus, poder esse que ele/a recebeu de Deus mesmo. Não é por acaso que a Igreja exige que aconteça um milagre pela intercessão antes do Bem-aventurado, e depois do Santo em questão. Não é tanto uma prova que se requer, mas sobre tudo fazer notar (evidenciar) que Deus concedeu àquele Santo uma força e um poder particular de intercessão junto a Deus. É óbvio que é Deus que concede Graças e faz acontecer milagres, mas na economia da Caridade que reina sem impedimento no céu, Deus ama envolver os seus eleitos ao difundir as Suas Bênçãos: o Santo, que está mais particularmente próximo do Coração de Deus, sente-se então como autorizado e convidado a aproximar-se ainda mais ao amor misericordioso do Senhor para pedir uma ajuda, um socorro, uma Graça também muito grande. É Deus que ama fazer Graça, com prazer acolhe aquela oração impregnada de altíssima caridade.

Os santos são, portanto, também por isso, os nossos irmãos maiores, que passaram pelas tribulações e assim conhecem as provações da vida frequentemente árduas: particularmente unidos a Cristo, nosso Sumo e Eterno Sacerdote junto do Pai, participam de Seu poder de intercessão junto ao Pai e o exercitam a nosso favor, imersos como estão na mesma caridade de Cristo.

Aqui, porém, pode surgir uma pergunta inquietante. Ao ouvirmos um pregador ou um teólogo não muito esclarecido, pode chegar até nós que não haveria uma vida eterna logo após a morte física, mas que seria necessário esperar a ressurreição final, aquela dos corpos no último dia. Nós não vamos entrar aqui nestas complicadas discussões superficiais com as quais eles argumentam as suas teorias: de fato são mais numerosas as perguntas que estas argumentações suscitam, do que as respostas que pretendem oferecer. Se o que eles dizem fosse verdade, assim tão diferente do que afirmam o Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica, então cairia quase tudo o que viemos afirmando até aqui: os cristãos mortos se encontrariam numa espécie de letargia, incapazes de fazer qualquer coisa a nosso favor, na espera de serem acordados por Cristo Ressuscitado no último dia; também a canonização dos Santos por parte da Igreja Católica teria pouco sentido. Talvez, então, deveríamos dar razão aos protestantes que falam de uma santidade só exterior, alcançada mas, não real.

A Igreja não crê deste modo: desde o princípio a Igreja venerou os Santos, celebrou a sua memória na Liturgia e invocou o seu auxílio. Isso em base a numerosos passos da Sagrada Escritura, dos quais citamos ao menos estes: Lc 16,19ss, 2Cor 5,8 e Hb 12,22 – 24. Isso é ainda confirmado por Padres e Doutores da Igreja ao longo de toda sua História. Não só: é confirmado pelo Magistério antigo e recente da Igreja. O recente pensamento filosófico e científico tem influenciado o modo distorcido de pensar o outro lado da vida, o qual por muitos modos tornou-se incapaz de perceber a realidade espiritual, entre as quais o espírito imortal que anima a pessoa humana, e que é voltado a reduzir tudo à matéria que evolui e morre. Este é um modo de conceber a pessoa humana que se coloca em radical contraste com a visão do homem que nos vem da Palavra de Deus e da Tradição cristã.

A veneração dos Santos que a Igreja continua a nos propor possa ter também este último benéfico efeito: aquele de recordar-nos de tudo o que faz parte do depósito da Fé, isto é, a nossa Comunhão com Deus não se interrompe com a morte, que a vida divina que começou a palpitar em nós já nesta vida continuará a fazer de nós vivos, não de mortos: é verdade na espera da ressurreição também dos nossos corpos para que a nossa bem-aventurança e a nossa participação à glória divina sejam plenas.

Lúcio Casto é sacerdote diocesano de Turim, Itália. Artigo traduzido de “Andare alle Genti” – Revista de Informação e serviço Missionário – Edição Maio/ Junho 2024

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